José Cruz/ABr
Mello e Barbosa
Marco Aurélio Mello e Joaquim Barbosa discutiram em plenário e se atacaram em notas e entrevistas

O Supremo Tribunal Federal, representante máximo do Judiciário brasileiro, nunca recebeu tanta atenção dos noticiários. E, exatamente quando colocados na vitrine, os ministros têm mostrado suas facetas mais ásperas. Os duelos, comuns há tempos nas sessões da Corte, ganharam uma dose extra de rudeza em encontros transmitidos ao vivo pela televisão.
 
Quando, na primeira sessão do mensalão, o relator Joaquim Barbosa disse lhe “causar espécie” a postura do revisor, Ricardo Lewandowski, prenunciava-se a tensão dos próximos meses. Hoje, o que provoca surpresa – tradução do ‘juridiquês’ ‘causa espécie’ – é o nível a que chegaram as discussões.
 
Foi também de um debate entre Barbosa e Lewandowski que surgiu a última polêmica. Mas, em defesa do colega, quem passou a trocar farpas públicas com o relator foi Marco Aurélio Mello. Foi dele o conselho de que Barbosa “policiasse a linguagem”, após ouvir de Joaquim insinuação de que colegas faziam “vistas grossas” no processo.
 
A discussão na sessão de quarta-feira, que envolveu Lewandowski e fez o presidente do Supremo, Carlos Ayres Britto, reduzir o volume dos microfones, foi o estopim para uma disputa ainda mais voraz.
 
“Como ele (Joaquim Barbosa) vai coordenar o tribunal (quando se tornar presidente)? Como ele vai se relacionar com os demais órgãos, com os demais poderes?”, questionou Marco Aurélio à imprensa na quinta-feira. Ele analisava uma postura ditatorial de Barbosa e suas as condições para o colega assumir o comando do STF com a aposentadoria de Ayres Britto, que ocorre em novembro.
 
A reação de Barbosa foi imediata. No mesmo dia, uma nota insinuava que Mello só estaria no STF por conta de seu parentesco com o ex-presidente Fernando Collor, que o nomeou quando ocupava o Palácio do Planalto.
 
“Ao contrário de quem me ofende momentaneamente, devo toda a minha ascensão profissional a estudos aprofundados, à submissão múltipla a inúmeros e diversificados métodos de avaliação acadêmica e profissional. Jamais me vali ou tirei proveito de relações de natureza familiar”, destacou o relator do mensalão.
 
Marco Aurélio disse que a nota do colega “não o alcançou”, mas colocou em dúvida uma possível aclamação do colega como presidente, como prevê o regimento. “É uma votação”, sentenciou.
 
Na sessão da próxima segunda-feira, Marco Aurélio dará sua posição sobre as condenações de Barbosa ao núcleo político do esquema. Não causará espécie em ninguém se sua fala gerar outra acalorada discussão ao vivo para todo o Brasil.



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NOTA DO EDITOR: Lamentamos profundamente todo esse ocorrido que não encontra ressonância na liturgia do cargo e na LOMAN, preocupando a todos nós o desenrolar dos acontecimentos. O STF como expressão máxima do Poder Judiciário Nacional, última fronteira de um Estado Democrático e Social de Direito, deve ter preservada a todo custo a sua imprescíndivel importância institucional, não podendo questões pessoais macular a sua estória, diante da tamanha responsabilidade que seus ministros carregam.